Já repararam que na China e no Japão existem bonsai que sobrevivem há séculos? Que muitas das plantas que vemos em vasos comuns, dos mais variados tamanhos, cedo ou tarde, vão parar no chão ou acabam morrendo em alguns anos?
Se você entender melhor as necessidades de uma planta e tiver uma noção básica, bem básica mesmo de botânica, irá ver que não é nada assustador. Como as orquídeas, nossos bonsai também têm necessidades diferentes.
É útil sabermos que as raízes mais claras, finas e ramificadas (meristema ou raízes capilares) têm a função de absorver água e nutrientes através das suas extremidades: é a “boca” da planta. As raízes mais velhas, fortes e grossas são responsáveis pela fixação e sustentação da planta ao solo.
Precisamos entender que para sobreviver e manter-se fixada, a planta necessita de espaço para suas raízes e estas, por sua vez, necessitam de ar, de água para hidratar-se e absorverem os nutrientes através de reações químicas; de uma base de sustentação e fixação de determinadas bactérias que vivem em associação com a planta, ajudando na absorção e/ou elaboração dos nutrientes, além de um solo com pH ideal para cada espécie. (Quanto às bactérias associadas, não se preocupem, a planta saudável se vira muito bem sozinha: elas chegam naturalmente à raiz através do ar, água, etc.).
Em contrapartida, temos as bandejas ou vasos de bonsai que normalmente são bem pequenos, cabem pouco substrato e por isso também mantêm a umidade por um curto período de tempo.
O substrato não deve compactar-se como terra comum, pois isso reduz a aeração e faz aumentar a umidade, asfixiando, apodrecendo e matando as raízes e, conseqüentemente, a planta.
Baseado nisto, chegamos à conclusão que este solo “ideal” deve ter:
- aeração (espaços vazios onde possa circular o ar);
- retenção de umidade e nutrientes suficientes para suprir a planta sem compactar-se nem encharcar;
- sustentação, propiciando a fixação das raízes e a planta como um todo;
- pH de acordo com a espécie cultivada. Um método prático para se determinar o pH do solo é a observação através do tamanho das folhas: folhas maiores, pH mais ácido; folhas menores, pH mais alcalino. Em geral, excetuando as azaléias, se o solo tiver aeração, retenção de umidade e drenagem adequadas, isso não será um grande problema problema.
• Mais oxigênio nas raízes;
• Melhor drenagem;
• Mais facilidade no transplante, sem os danos às raízes capilares;
• Mais fácil de expor e limpar as raízes durante a poda;
• Maior área de superfície em que as raízes possam crescer;
• Aumento do número de raízes e suas ramificações;
• Menor elevação de temperatura do substrato em nível danoso à planta;
• pH do solo correto para a espécie;
• Condições ideais para a troca de íons;
• Meio apropriado para o desenvolvimento de bactérias benéficas associadas;
• Cor e aparência agradáveis;
• Facilidade em aplicar e controlar nutrientes;
• Menos estresse pela diminuição dos riscos em quebrar raízes mais grossas;
• Menor probabilidade de galhos mortos;
• Melhoria na saúde da planta;
• Aumento da longevidade do bonsai.
Vamos entender essa granulometria ou tamanho das partículas nesse substrato:
As raízes crescem entre as partículas do solo e, se olharmos bem de perto, veremos que a parte merismática ou capilar vai de encontro à essas partículas, hora mudando de direção no seu crescimento, hora ramificando-se e aumentando de diâmetro, o que é muito bom.
Nesse crescimento, as raízes estarão em busca da água disponível que se encontra junto ao ar. Isso mesmo!
Todos já viram na escola sobre as propriedades da tensão superficial dos líquidos, que criam um efeito capilar e que elevam um líquido, aderindo a pequenos corpos. Isso fará a água aderir às partículas do nosso substrato granulado, mantendo tanto oxigênio como também a água.
Hoje, sabemos que a granolometria ideal para esse substrato varia entre 2 a 5 milímetros de diâmetro.
Para conseguirmos estes tamanhos precisamos de duas peneiras. Uma com 1 ou 2 milímetros de malha e a outra entre 4 ou 5 milímetros de malha. Vamos moendo o nosso substrato escolhido e peneirando na peneira de malha maior, o que não passar por esta, deve ser moído novamente até passar completamente. Depois peneiramos na peneira mais fina. Nesse caso, o que passar tem que ser descartado, pois é pó ou pequeno demais. O que ficar nesta última peneira será utilizado!
Temos também grãos de dois tipos: o liso, do tipo cascalho de rio lavado (meio vítreo) e os ásperos, do tipo calcário dolomítico (ou Dolomita) moído. O grão mais áspero tem uma área de superfície muito maior que o grão mais liso e isso proporciona uma capacidade de retenção de líquidos muito maior que no grão liso. Portanto, os grãos ásperos são muito mais apropriados na utilização em bonsai.
Agora uma polêmica: costumamos colocar só cascalho mais grosso no fundo dos vasos com a finalidade de melhorar a drenagem do substrato e isso é utilizado pela maioria dos mestres, foi o que me ensinaram e é o que faço ainda, mas pesquisas recentes mostraram que esta prática pode estar fazendo mal aos nossos bonsai.
A capilaridade da água no substrato, que nos ajuda, tende a mover-se de uma partícula maior para uma partícula menor e isso tende a carregar a umidade do vaso para a camada mais superior do substrato e criando uma “falta” de água nas raízes mais baixas do vaso, formando um acúmulo de sais. Muitos mestres de bonsai estão começando concordar que o ideal é conter uma mistura homogênea em todo o vaso sem a camada de cascalho mais grossa no fundo!
Mais algumas coisas a serem levadas em consideração na formulação do substrato:
Profundidade do vaso - influencia drasticamente na evaporação da água, vasos muito pequenos como os de mame ou muito rasos tendem a reter a umidade por bem menos tempo.
Insolação - ou período em que o vaso permanece exposto ao sol. Um vaso que fica o dia todo exposto ao sol, obviamente perderá mais umidade que outro exposto apenas durante a manhã.
Clima - as estações do ano, clima ou micro clima local, ventos, média pluviométrica, etc.
Espécie cultivada - algumas espécies preferem solos bem encharcados como as Éricas Chinesas (Leptospermum), plantas originárias da Nova Zelândia e Austrália. Outros, como os pinheiros e tuias, se desenvolvem melhor em um substrato bem drenado, isto é, que não encharque.
Vaso – De certa forma, a superfície e material do vaso também influenciam na umidade. Um vaso mais poroso tende a reter mais água.Características e possibilidades de materiais
No Japão utiliza-se uma composição de “Akadama”, que é uma argila vulcânica e compõe a maior parte do substrato, “Kiryu” extraído próximo à uma cidade de mesmo nome, tem sua composição argilo-arenoso e “Kanuma”, também extraído próximo à cidade de mesmo nome, amarelado, ácido, de origem vulcânica, sem matéria orgânica e muito usado puro nas azaléias. Entretanto, este material todo é muito difícil de ser encontrado no Brasil.
Dolomita - ou qualquer material mineral calcário, proporciona boa aeração, drenagem pH alcalino, livre de matéria orgânica e nutrientes.
Cascalho lavado de rio - Pedrisco ou areão de rio, normalmente formado por quartzo, proporciona boa aeração, drenagem, pH neutro, livre de matérias orgânicas e nutrientes. Menos indicado para algumas regiões que o cascalho de dolomita, por possuir uma superfície mais lisa, com menor área e, portanto, retendo menos umidade.
Terra de cupinzeiro moída - Tem sua composição argilosa, boa aeração, retém boa umidade e nutrientes, compactação moderada (compacta-se em até um ano), tende ao pH neutro, pouco ou nenhum nutriente. È conveniente assar este material depois de peneirado para evitar contaminações e eliminar sementes de plantas indesejáveis. Cupinzeiros de cor mais escura são menos arenosos e tendem a compactar-se ainda menos.
Vermiculita - Material de origem mineral com grande capacidade de absorção e retenção de umidade e de nutrientes, pH neutro, isento de nutrientes. Usado somente em vasos muito pequenos (mame) ou em regiões muito quentes, em proporções não maiores que 10% do total da mistura. Pode ser encontrada em casas de agro-pecuárias.
Substrato comercial - Do tipo Plantimax, Biomix, etc. Normalmente vem com matéria orgânica “curtida”, incorporada (restos de folhas, madeira, serragem, pó de xaxim) e terra preta. Não utilizar ou evitar os substratos que tenham a adição de adubos (ou adubado). Alguns fabricantes colocam também vermiculita na composição, é bom observar isso e tomar o devido cuidado. Pode ser bem aproveitado para composição se o substrato for para Azaléias, acidificando a mistura. Por aqui uso 1/3 ou ¼ para as mesmas.
Carvão vegetal - Tem certa propriedade fito-sanitária e pode ser usado em até 5% da mistura moída na mesma granulometria dos outros componentes. é bom observar que, entre outros, ele possui aproximadamente 15% de Potássio e que, este nutriente é importante na manutenção estrutural da planta.
Material orgânico - Em geral, restos de vegetais em decomposição e esterco. Rico em nutrientes, pH ácido, grande capacidade de retenção de umidade, compacta-se facilmente. Restos de agulhas e cascas de pinheiro poder proporcionar um fornecimento inicial de micorrizas.
Argila expandida moída – Boas propriedades em retenção de umidade e absorção de nutrientes, boa aeração, pouca ou nenhuma compactação, inerte, pH neutro, isento de nutrientes. Tem uma aparência desagradável por ser cinza escuro, quando quebrada. Outra opção é a Cinasita 500 que é a argila expandida em sua menor granulometria.

Composição final do substrato “ideal”
Não existe um substrato ideal, mas sim uma mistura básica para cada região do país (clima) e espécies. Em geral, não se acrescenta material ou adubo orgânico, nem adubos químico ao substrato. Toda a necessidade de nutrientes que a planta exigir será colocado periodicamente através de adubos específicos, sejam eles químicos ou orgânicos, que serão retidos no vaso pelos materiais com boa absorção de água.
Uma mistura de uso geral aqui na região Sudeste (São Paulo) seria de 50% de pedrisco de dolomita e 50% de terra de cupinzeiro moída ou tijolo moído mais 5% de carvão vegetal.Se for azaléia, retiro 10% de cada material e acrescento 20% de material orgânico, ou então acrescento 20% ao total da mistura, ou mais, para acidificá-la. Se o caso for mame e você não tem como ficar sempre de olho na umidade, aquela pequena porcentagem de vermiculita pode ajudar e ser acrescentada.Tendo em mãos estas informações acredito que seja mais fácil para cada um formular o “Seu substrato ideal”! Levando em consideração agora o gosto pessoal, clima local e disponibilidade do material citado!
As alternativas não faltam.
Pó de coco
O pó de coco no substrato tem várias vantagens:
-Mantém a umidade por muito mais tempo permitindo inclusive diminuir as regas.
-Com uma taxa de decomposição bastante lenta, condiciona o solo elevando sua porosidade. Leva + de 2 anos para decompor totalmente, ou seja quando se deve reenvasar o Bonsai.
-Também promove o desenvolvimento de um nível de pH médio, ideal ( 5,4 a 6,8 ).
-Taxa de nitrogênio próximo de zero não incentiva o crescimento desmedido do bonsai, permitindo melhor administração da adubação.
-Praticamente não possui microorganismo nocivos por ser praticamente estéril.
-Totalmente livre de erva daninha.
-Contem tanino, o que elimina fungos, moscas e algas.
-Com índice elevado de lignina, uma substancia orgânica, que incentiva a formação de micro-organismos favoráveis na zona da raiz, permite maior longevidade às plantas.
No substrato eu uso 35% pó de coco, 15% areia lavada, 25% caco de tijolo, 20% RendMax Floreira, 5% de Humus de minhoca.
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